terça-feira, 20 de julho de 2010

Mente e corpo • Mind and body


Seria muito ingênuo por parte do homem se ele pensasse que mente e corpo estão separados, no sentido de que podemos traçar linhas imaginárias limitando o que é palpável pela ciência e o que é misterioso, admitindo que um não interfira no outro.
A Psicologia é uma ciência extraordinária porque trouxe o questionamento acerca do que realmente se deve prestar atenção e a resposta foi enormemente diversificada. Podemos ver estudos que focalizam o contexto inconsciente da psique, vemos estudos com animais em laboratório, vendo comportamentos responsivos a fármacos e mapeamentos cerebrais, vemos estudos sociais, envolvendo conduta, motivação, pensamentos em conjunto. Enfim, como ver o universo humano como algo único e simples, se fazemos parte dele e, por experiência própria, sabemos que estamos longe de realmente entendermos sobre tudo?
As psicopatologias são interessantíssimas porque trazem o paradoxo mente-corpo para as discussões. Dependendo da linha que se segue, a visão de um Transtorno de Ansiedade Generalizada poderia ser, simplesmente, uma reação agonizante diante de conflitos do ego, por exemplo. Ou, por outro lado, reações químicas cerebrais que ocorrem a partir de interações corporais com eventos e estímulos ambientais que se tornaram aversivos.
Bem, para mim, não podemos separar a mente do corpo quando falamos em psicopatologias, pois elas compreendem um universo sintomatológico de origens diversas. É como pensar em uma pessoa com obesidade mórbida. Ela se colocou nesse quadro por uma questão genética, ou por costumes alimentares compulsivos? Se pelo segundo, será que são questões culturais ou de criação ou por questões puramente emocionais? Se ela alcançou a obesidade mórbida e sofre com isso, o que a impede de perder peso e voltar a ser saudável? São limitações físicas ou psicológicas? Ambas! Há vários motivos para se acreditar que uma pessoa tenha tendência genética a ganhar peso. Mas para chegar a um quadro de obesidade mórbida, pensa-se que, no mínimo, existam fatores emocionais fortes, que facilitam a compulsão e finalizam em uma situação de alta periculosidade.
O mesmo podemos falar sobre estresse exagerado. As situações cotidianas nas quais nos envolvemos, preocupações, pressões sociais, responsabilidades, dores de cabeça dos mais variados tipos, até acontecimentos que fogem de nosso controle como uma morte de alguém, um divórcio, uma demissão... Tudo isso colabora para situações tão estressantes em nossas vidas, que às vezes passam despercebidas. Há situações que fogem tanto de nosso controle, que se tornam patológicas. É muito fácil uma pessoa se tornar depressiva diante de uma situação estressora, da qual há um enorme quadro de frustração. E diante disso, vemos reações neurobiológicas muito delicadas, que dão respaldo para as suspeitas psicológicas. Se não houvesse uma correlação mente e corpo, por que um paciente com Transtorno Depressivo Maior apresentaria quadros de insônia, perda de peso e amnésia anterógrada? Por que um estresse patológico faria cair cabelos, perda de apetite? Nossa mente está tão interligada com nosso corpo, que mal temos a noção do quão importante são nossos pensamentos e motivações diante de uma doença aparentemente fisiológica.
Esses questionamentos têm importância seríssima no enfrentamento de situações em que não há muito que se fazer. Um doente terminal, diante de uma quase morte, possui alta probabilidade de se fechar em um quarto, deprimido, porque não consegue lidar com o fato de estar prestes a se despedir do mundo. Talvez o próprio prognóstico da doença tenha uma melhora significativa se o paciente passar por um processo motivacional, que o anime a lutar até o resto de seus dias, com alegria, satisfação.
Podemos falar, também, do efeito placebo. Esse feito nada mais é do que uma influência psicológica para várias questões de saúde. Não é simplesmente usar uma pílula de farinha, totalmente enganosa, para fazer alguém acreditar em um tratamento. O efeito placebo já está comprovado e demonstra o quão forte está o pensamento e a motivação, por cima de quase tudo aquilo que nos parece físico e incontrolável.
O fazer psicologia é extraordinário porque nos abre portas teóricas e metodológicas imensas. Mas para todos aqueles que têm curiosidade ou que se iniciarão nessa ciência, talvez seja importante manter suas visões abertas. A ciência não deve se limitar àquilo que só conseguimos apalpar. A ciência está longe de responder tudo o que perguntamos e precisamos ser ousados. O que posso concluir, agora, é que mente e corpo mantêm uma ligação tão íntima e tão forte, que mal podemos imaginar o poder que nossos pensamentos têm sobre nós mesmos. Muitos estudos ainda podem ser feitos sobre o assunto. Ser um psicólogo consciente é saber que há muito ainda a se conhecer.