terça-feira, 14 de maio de 2013

Luz do amanhã

Palavras-chave: desigualdade social, potencialidades, sociedade.

A sociedade brasileira está plenamente dividida em diversos níveis socioeconômicos, raiz predominante da nossa cultura, caracterizados por diversas peculiaridades políticas, econômicas e sociais que por vezes colaboram para o distanciamento das realidades, o preconceito e a não aceitação da desigualdade, como ponto fundamental para a diversidade humana.
            Nessas raízes de desigualdades, nitidamente encontram-se problemáticas que ferem o que se tem por dignamente direito do homem. Condições de vida que não são contempladas por serviços voltados para a educação de qualidade, saúde de qualidade e oportunidades que poderiam gerar um nível de vida um pouco melhor. Assim, abrem-se as portas para a marginalização, para uma busca infinita por melhores vivências e, por um desamparo em não encontrar, na maior parte das vezes, um sucesso nessa empreitada, recorre-se aos comportamentos fora da lei, como um alívio momentâneo a qualquer necessidade, mesmo que isso signifique prejudicar o próximo.
            Realidades delicadas podem ser notadas em diversos contextos familiares, mas famílias inseridas em condições de vida extremamente complicadas tendem a experienciar diversas dificuldades no âmbito econômico, social, orgânico e mental. Dificuldades que, a longo prazo, são verdadeiros geradores de sofrimento, provocando feridas tão profundas, recheadas por sensações de desamparo, descontrole e falta de escolha. É bem sabido que a atualidade do país não conta com políticas públicas em número e eficiência suficientes para vencerem esses desafios e os que estão à margem continuam nessa situação, sem perspectivas de progresso e, muito menos, de uma mão que se estenda em auxílio.
            Por diversos motivos diferentes, o homem sofre e vivencia diversas sensações e emoções existentes. Mas por mais que os motivos variem de realidade para realidade, as sensações se repetem, tocam o íntimo de cada um e nem assim tem sido fácil perceber que há igualdade na diferença. O homem não está “treinado” a exercitar um olhar que transcenda o seu eu. É difícil aceitar que o outro se comporta e pensa de uma maneira diferente, é complicado compreender que nem sempre o mundo se realiza como se espera. Nessa luta por negar a diferença do outro, o eu se fecha e se volta para a própria realidade, supervaloriza-se. A eterna busca da própria felicidade, portanto, muitas vezes implica na recusa de se enxergar a necessidade do outro e, frente aos diversos avanços tecnológicos, a luta pelo ser e pelo ter se torna cada vez mais forte.
            A individualidade se sobressai, o social se fere. Tudo o que poderia ser construído conjuntamente é reduzido a diversas conquistas solitárias. Isso não só colabora para acentuar as diferenças, quanto para acentuar o olhar que se tem sobre as diferenças. O eu quer se fastar do que o atrasa, o que importa é buscar o infinito, mesmo que sozinho, a verdadeira filosofia do “cada um por si”. Mas assim como se observa nas teorias do desenvolvimento do ser humano, tudo o que existe na Terra é mutável, passível de evolução e carrega consigo um potencial. Esse potencial nada mais é do que uma pequena chama que, em condições favoráveis e com o auxílio de algo que está aquém, pode se tornar uma realidade. Assim, se um homem possui potencialidades ainda limítrofes, com toda a certeza seria possível torná-las realidade, com o auxílio de um desenvolvimento, muitas vezes motivado e guiado por algo ou alguém de experiência.
            Assim poderia ser lançada uma questão: se existem potencialidades, por que não voltar o olhar para o que pode ser a luz do futuro? Por uma mera questão de falta de oportunidade, que se exemplifica pelas realidades que se observam nessa sociedade, diversas potencialidades ficam no plano da inércia e, pelo movimento natural que se evidencia, tendem a se tornar chamas que se apagam, pouco a pouco, ao longo dos anos marcados pela desesperança. Aqueles, portanto, que detêm as experiências, as oportunidades e os “meios de”, poderiam, em uma ação que vise uma evolução conjunta, compartilhar essa força para facilitar o amanhã. Um amanhã que nada mais é do que um futuro progredido, enriquecido por diversos pensadores, realizadores e benfeitores.
            A partir do momento em que o eu conseguir transcender, o outro tornar-se-á também uma meta. Não adianta parafusos trabalharem sozinhos para formarem uma máquina, cada engrenagem possui sua função e, nesse funcionamento sistemático, é possível se chegar a um fim concreto e fortalecido. Assim, o exercício de voltar o olhar para o além significa solidificar as bases fundamentais para um progresso que traga benefícios para uma totalidade e não para uma pequena parte. Não é uma questão de seleção natural, de “salve-se quem puder” ou de “o mais forte sobrevive” e sim, uma questão de “duas cabeças pensam melhor que uma”, de união que leva à perfeição, de “gentileza gera gentileza”. O homem precisa enxergar que há um propósito e um ganho próprio em uma construção conjunta, em uma valorização da diversidade e, principalmente, na compreensão das limitações, que podem ser facilmente superadas pelas potencialidades.