quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Os efeitos da estratégia educacional autoritária sobre os comportamentos de crianças e adolescentes e a possibilidade de ocorrência do Bullying- Uma reflexão Behaviorista • The effects of an authoritarian educational strategy on the behaviors of children and adolescents: a possibility of Bullying



          




O pressuposto da teoria de Skinner é explicar o comportamento humano como resultado da influência de estímulos presentes no meio. A compreensão acerca da forma como esses estímulos agem sobre os comportamentos é importante, pois assim se torna possível fazer modificações nos estímulos, provocando mudanças comportamentais desejáveis. O comportamento opera sobre o meio e por ele é reforçado ou punido. A frequência do comportamento depende dos estímulos que o seguem e também de seus potenciais reforçadores ou aversivos à pessoa que os elicia. Um estímulo reforçador, por exemplo, age diretamente sobre o comportamento, possibilitando uma nova ocorrência e assim, aumentando sua frequência e probabilidade de eliciamento. Por exemplo, no contexto da escola, um aluno que estuda adequadamente para uma prova pode ser reforçado pela consequente boa nota na avaliação, aumentando a probabilidade de que ele estude com qualidade mais vezes. Uma punição, por outro lado, age diretamente sobre um comportamento indesejável de forma aversiva, limitando-o e/ou cessando-o por completo. Por exemplo, um aluno que tem más condutas na escola pode ser punido pelo professor com algum castigo que seja suficientemente aversivo e assim seus comportamentos poderiam ter suas frequências diminuídas. O que se observa, no entanto, é que a punição possui alguns efeitos específicos: a) inibe temporariamente o comportamento, podendo perder seu potencial avesivo com o tempo; b) pode ter seus efeitos estendidos a outros comportamentos vinculados ou próximos ao comportamento punido, como diminuir a frequência com que um aluno conversa em sala de aula, mas diminuir também a frequência da fala do aluno, mesmo quando ela é desejada em outros contextos; e c)pode exercer sua função apenas quando a contingência de punição ou o agente punidor estiverem próximos, por exemplo, quando a criança é punida por um professor por eliciar comportamentos indesejáveis e, na ausência desse professor (agente punidor), os mesmos comportamentos ressurgem  (Ries, 2001).
            No contexto escolar, a autoridade está intimamente ligada à (in)disciplina, ocorrendo porque o projeto pedagógico prevê relações assimétricas de poder, no qual o docente exerce autoridade sobre o aluno (De La Taille, 1999). A maneira como o professor exerce sua autoridade em sala, de forma autoritária ou liberal, é vital para o estabelecimento de situações de disciplina em sua turma (Araújo, 1999). No entanto, autoridade vem sendo tradicionalmente confundida com autoritarismo e o aluno se cala por temer as punições e ameaças do professor, enfraquecendo, progressivamente, a relação professor aluno(Novais, 2004). Para Lobrot (1977), a autoridade se contrapõe à liberdade,visando se impor ao outro idéias, crenças e hábitos desejáveis. Isso seria possível a partir de estratégias repressivas, que envolvem a coerção, pelo direcionamento através de ameaças e recompensas. A autonomia de pensamento e ação acaba sendo fruto da internalização de regras e deveres que são vivenciadas diariamente no processo pedagógico, por intermédio da autoridade docente (Davis &Luna, 1991). Essa coerção cria um clima emocional em sala que pode gerar hostilidade, ressentimento, passividade e sentimentos de inferioridade, que dificultam ainda mais o trabalho pedagógico (Furlani, 2003), o professor se volta aos alunos indisciplinados, promovendo a punição pelos comportamentos indesejáveis, mas não favorece o desempenho adequado do aluno. Diante dessa situação, algumas respostas podem ser obervadas por parte dos alunos, entre elas a revolta, como uma reação contra o autoritarismo da escola, manifestando comportamentos que vão desde a indisciplina até a “delinquência” (Novais, 2004).
            O controle comportamental do tipo coercitivo, para influenciar comportamentos,  é feito pelo uso de reforço negativo ou punição. Reforço negativo é uma estratégia de reforçamento que tem o objetivo de aumentar um comportamento visado, retirando-se um estímulo aversivo para o indivíduo. Por exemplo, se a professora quer que o aluno faça silêncio e preste atenção na aula, pode tentar controlar seu comportamento oferecendo a possibilidade de ele não precisar fazer o dever de casa, que a priori teria uma significação negativa para o aluno. A punição, positiva ou negativa, tem o objetivo de diminuir a frequência de um comportamento, podendo retirar um estímulo agradável para o indivíduo (negativa) ou inserindo um estímulo aversivo (positiva) para o indivíduo (Sidman, 1995). Para Marinho (1999), crianças e adolescentes expostos ao controle de comportamento por meio da coerção podem manifestar comportamentos antissociais, com características agressivas e rebeldes, além de défict em habilidades sociais, dificuldades escolares, ressentimento e baixa habilidade para solucionar problemas. Para Sidman (1995), crianças e adolescentes educadas por meio da coerção tendem a reproduzir esse padrão punitivo com outras pessoas e em outros contextos, especialmente quando se tornam adultos. Além disso, pessoas expostas ao controle comportamental tendem a encontrar estratégias de evitação, como a fuga e a esquiva, que não proporcionam aprendizado, apenas paralizam o sujeito, que passa a desenvolver dificuldades de se expor a novas contingências, podendo retrair-se e manifestar dificuldade em relacionamento social (Namo & Banaco, 1999).

            Tendo em vista a definição de Bullying proposta por Fante (2005), que o caracteriza como uma série de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, direcionadas a um aluno ou um grupo e produzindo dor, sofrimento, angústia e retraimento social, e ainda, tendo em vista que esse contexto de intimidação ainda não possui apenas uma explicação teórica para sua origem e ocorrência, questiona-se: seria possível que alunos que vivenciam frequentemente contingências punidoras como forma educativa, na escola e na família, estejam reproduzindo esses comportamentos em outros contextos, como uma reação ao aprendizado baseado na coerção (Sidman, 1995)? Se o controle de comportamentos caracterizado pela coerção é responsável por alta ocorrência de comportamentos reativos agressivos, violentos e antissociais (Marinho,1999), é possível traçar uma alta probabilidade de alunos agressores terem vivenciado algum tipo de violência, doméstica ou escolar, caracterizada pelo uso de ameaça, controle e punição, como igualmente demonstra o estudo de Pinheiro e Williams (2009).
            Pais e professores precisam estar mais atentos aos efeitos de uma educação baseada no controle coercitivo, a fim de se evitar consequências e significações, por partes de crianças e adolescentes, que os levem a se comportar de maneira agressiva e violenta em outros contextos, principalmente quando adultos, repassando essas condutas de forma transgeracional. Uma alternativa ao uso da punição seria a utilização do reforço, positivo e/ou negativo, em casa e na escola. Os esquemas reforçadores promovem o aprendizado do indivíduo e a mudança do comportamento de uma maneira pacífica, não utilizando a linguagem da ameaça, o que possibilitaria o crescimento individual e o conhecimento de si (Souza, 2009), sem estar exposto a medo e aversão, que podem ser causados pelo uso contínuo da punição, e sem precisarem utilizar estratégias de fuga e esquiva, que não proporcionam um aprendizado duradouro.