O
homem não é naturalmente bom, nem naturalmente mau, mas em todos os lugares,
viver de acordo com o bom é viver segundo a moral, é ser honrado. Ao passo que
viver contra esse ideal, é estar sujeito à desconsideração e ao preconceito
(Weil, 2011). Ser “bom”, segundo uma história etimológica, significa ser útil,
aristocrático, espiritualmente nobre e ser “ruim” está relacionado ao plebeu,
ao comum, ao simples (Nietzsche, 2010). Esses termos eram criados e
naturalizados por pessoas de poder, que ocupavam cargos aristocráticos e baseavam-se
em seus próprios interesses para separar aquilo ou aquele que poderia ser útil,
daquilo ou daquele que não teria importância. Por muito tempo, essa
aristocracia esteve ligada ao espiritual e à Igreja, o que indica que muitos
dos valores criados há milhares de anos e enraizados até hoje nasceram a partir
de pressupostos e princípios religiosos (Weil, 2011).
Mas o homem não pode falar de bem,
se não tiver pleno conhecimento de seu oposto, o mal. É justamente pela
contrapartida que se faz o termo, não é possível se falar de bem, sem saber o
que é mal, ao mesmo tempo em que é impossível se falar do que é claro, sem
saber o que é escuro, doce, sem saber o que é salgado, liso, sem saber o que é
texturizado. Existe uma esfera dicotômica dentro da genealogia da moral,
influenciada por necessidades e desejos, que luta para separar o homem em
completamente bom ou completamente ruim. Mas, é claro, essa separação nunca
seria possível se portar-se como “ruim” não fosse um risco a todo ser que
almeja ser totalmente “bom”.
Por uma aspiração à santidade, as
pessoas já chegaram a manifstar comportamentos altamente destrutivos.
Flagelar-se, inflingir-se um castigo significava querer educar o corpo,
dominá-lo, mortificá-lo para submetê-lo a uma ordem divina. Mas “os flagelantes
acabaram por ser vistos como possuídos pelas paixões demoníacas que eles
pretendiam vencer” (Roudinesco, 2008). A flagelação foi, então, comparada a um
ato de devassidão: o que antes se dirigia a um ideal religioso e divino, por
própria influência da Igreja, passou a ser visto como “ruim”, “demoníaco” e
devasso.
Da mesma maneira, os costumes
pederastas gregos, expressos por rituais de iniciação sexual masculinos,
revelavam comportamentos hoje tidos não só como pedófilos, como por incestuosos
e homossexuais. Apenas mais um exemplo de comportamentos vistos como “normais”
e esperados socialmente, influenciados por novos ideais e valores que acabam
por taxá-los como algo próximo ao demoníaco, ao inútil, ao perverso. Relações
homossexuais, não necessariamente intrafamiliares, ocorrem já há muitos
séculos, marcaram a história do mundo e sempre estiveram presentes na rotina
humana. Foi a partir do fortalecimento dos ideais religiosos, além da ascensão
dos pressupostos científicos iluministas, que a homossexualidade passou a ser
vista como promíscua e desprovida de qualquer utilidade pública e social, pois
não favorecia a formação da família e, portanto, não poderia ser vista como ato
cabível e desejável (Roudinesco, 2008).
A manifestação de todos esses
comportamentos indesejáveis, que vão contra o que é estabelecido como moral
pela vontade dos maiores, não poderia ser vista de outra maneira, a não ser
como desviante e anormal. Assim, uma união entre princípios morais e religiosos
e conceitos científicos vigentes puderam, juntos, começar a criar as bases para
o que hoje denomina-se psicopatologia. Aquilo que é indesejável e que se
manifesta contra os ideais era, portanto, desviante, patológico e inconcebível
e deveria receber um tratamento ideal: o afastamento social.
Falando-se de pederastia, flagelação
e homossexualidade, por exemplo, o termo perversão passou a integrar uma noção
de degeneração ou loucura moral, e as perversões sexuais entraram no vocabulário
da psiquiatria como anomalias ou aberrações da conduta sexual. Com origem no
latim perversione, a perversão
significa nada mais do que tornar-se perverso ou mau, corromper, depravar,
desmoralizar (Ferraz, 2010), ou seja, significa estar inadequado ao estabelecido
como moral, posicionar-se como “inútil”, “pobre” e “indesejável” e ser visto
como mau.
A proposta higienista, fundada a
partir de ideais que valorizavam a formação da família e do homem perfeito
criou costumes de discriminação e afastamento social àqueles que se portavam
como indesejáveis. Loucos, criminosos, prostitutas, pobres, doentes mentais e
qualquer “classe” humana tida como inútil e “ruim” era então excluída, inserida
em espaços denominados asilos. Assim, era possível filtrar tudo o que
manifestava a parte obscura do ser humano, como se o convívio em sociedade
significasse má influência, contágio ou disseminação de algo que já não
estivesse presente dentro de todos.
Posteriormente, reformas na área da saúde
mental transformaram os asilos em instituições teoricamente melhores, com
tratamentos mais humanos e eficientes. Os hospitais psiquiátricos começaram a
se dirigir aos “loucos” e as penitenciárias, aos criminosos. Aos “loucos
infratores”, foram criados manicômios judiciais.
As próprias penitenciárias podem ser
vistas por um prisma histórico mais complexo. Muito antes de se pensar em um
regime fechado de punição, o tratamento aos indesejáveis se dava de uma forma
não mais perversa do que as execuções públicas. Em rituais de esquartejamentos,
queimadas, enforcamento e trações à cavalo, o objetivo era castigar o corpo do
sujeito, expondo-o ao público para servir de exemplo (Foucault, 2010). O show
de horror, comparativamente muito pior do que os atos de flagelação,
dirigiam-se ao mesmo destino: ceder o corpo às ordens divinas, castigar e
mortificar para alcançar o perdão. A diferença é que a flagelação consistia em
um ato pessoal de “progresso”, ao passo que as execuções penais eram impostas a
terceiros. Ambas, vistas atualmente, assemelham-se ao que hoje se denomina
masoquismo, sadismo e até homicídio. Observa-se, então, por trás de
comportamentos tidos como desejáveis – castigar os que merecem - condutas
próximas às repreensíveis: violentar aquele que violentou, impor sofrimento ao
que outrora o causou, projetar agressividade naquele que a possui.
Como afirma Beccaria (2005), “o
assassinato que nos é apresentado como um crime horrível, vemo-lo sendo
cometido friamente, sem remorsos”. De maneira semelhante, os atos cruéis de
Auschwitz, que torturaram e executaram milhares de judeus pela crença de serem
“impuros” ou pertencentes a uma “raça inferior”, demonstram-se, mais uma vez,
como possibilidades de comportamentos perversos e violentos, por parte de
homens “comuns”, em obediência a ordens superiores, convenções sociais ou
princípios “legítimos” (Roudinesco, 2008). Ou seja, ato perverso por ato
perverso, não se pode apenas olhar para o homem indesejável, o que comete
crimes horrendos, buscando a dicotomização já dita anteriormente. Se estamos
falando de “bem” e “mal”, cateogorizando o “mal” como símbolo de tudo o que vai
contra o moralmente estabelecido, as atitudes violentas dos “normais” também se
enquadrariam no simbolismo do “mal” e, portanto, ao final, tudo se resumiria a
obscuridade. A verdade é que ninguém se constitui apenas por “bem” ou por “mal”
e não somente os vistos como indesejáveis, loucos, pobres de espírito são
capazes de cometerem atrocidades: elas são percebidas em toda parte, legítima
ou ilegitimamente.
Depois de alguns anos, o paradigma
da punição passou por modificações. A punição agora se dirigia à alma e, quando
envolvia morte, exigia a diminuição do sofrimento e da dor. Além disso, foram
adquiridas “medidas de segurança”, que acompanham a pena e se destinam a controlar
o indivíduo, neutralizar sua periculosidade, a modificar suas disposições
criminosas, cessando somente após a obtenção de tais modificações (Foucault,
2010). Para isso, equipes multidisciplinares se dirigiam a invocar a loucura
para justificar o ato criminoso, qualquer infração incluía a hipótese da
loucura. A partir do momento em que essa faz parte daquele que a possui e que
ele é única e exclusivamente responsável por sua loucura, a responsabilidade do
crime é deslocada de uma sociedade problemática, para um cidadão problemático.
O direito de punir passou de
vingança de um soberano, a uma defesa da sociedade. A pessoa que comete um
crime se torna um traidor da ordem social e passa a merecer a união da
sociedade contra ele. Assim, os homens se vêem no direito de exercer sua
violência sobre o descumpridor, não apenas a partir da liberdade limitada, mas
a partir de olhares discriminatórios, exclusão social, preconceito e asco. Se a
pena de morte não é legalizada, ela acaba por ocorrer de um jeito ou de outro.
O criminoso que se mostra traidor está fadado à prisão perpétua, à morte de
espírito. E aos “incorrigíveis”, aos quais a limitação de liberdade não seria
útil, não caberia melhor estratégia a não ser eliminá-los (Foucault, 2010).
Não é preciso ir tão longe, a
violência que se vê sendo cometida há tantos séculos está ainda manifestada nas
rotinas humanas, serve de solução para problemas, de artifício para algumas
profissões, de condutas educativas e, até, de meios de comunicação e lazer. A
humanidade não só é movida pela violência, como algo que pertence e está
inerente ao ser, como se alimenta dela, utiliza-a como objeto, resposta e
diversão. Iniciando nos rituais de execução pública, relatados anteriormente,
como verdadeiros espetáculos do horror, que uniam populações curiosas e ávidas
por vingança, passando pelos depósitos de gente, ou asilos, direcionados a
transformar qualquer vida em sobrevida e mazela, chegando próximo às guerras,
chacinas, torturas e genocídios, aos golpes políticos, às literaturas
subversivas, ao culto dos palavrões, à
violência à mulher, idosos, crianças, homossexuais e negros, chegando
finalmente ao que se vê frequentemente nos meios públicos como programas de
televisão, filmes e lutas. O homem está cercado por essa violência, em menor ou
maior grau, absorve, consome, interpreta e reproduz, sem nem ao menos perceber.
O que acontece com o mundo? Está se aproximando ao caos da agressão ou só se
demonstra, desde seus primórdios, extremamente violento?
O que seria do sadismo se não
tivesse existido Sade? Mas muito mais do que isso, o que seria de Sade, se não
houvesse sua violência? Mesmo que não totalmente comprovada sua atuação, sua
literatura retratava o que o público queria ver. Ao mesmo tempo em que revela
os desejos, a curiosidade e as necessidades humanas, revela justamente aquilo
que todos lutam para esconder, para manter entre quatro paredes. Sade é um
veículo que manifesta as vontades mais profundas e obscuras humanas, mas como
todo corajoso que as expressa, sofreu discriminação, isolamento social e uma
obrigação ao silêncio. Mas o que seria de Sade e de sua criatividade
extremamente sexual, se não houvessem pessoas para ler, deliciar-se e
disseminar suas obras?
Ao mesmo tempo, o que seria de
Monsieur Verdoux se não fosse seu notável charme em suas mais perversas
atitudes? Chaplin “manipula
conscientemente seu público, quer obter o riso, a emoção, o estupor” ( Susini,
2006). Os espectadores, então, permanecem felizes, realizados, talvez por
assistirem um ídolo fictício, simpático, vítima do abandono social, realizando
aquilo que possa ser o maior desejo de todos. A inversão chega a nível tão
profundo, a ponto de levar o público a se posicionar contra a polícia, uma vez
que o personagem é pego e precisa se submeter às consequências legais de seus
atos. Como afirma Susini (2006), “Mas a verdade, a nossa, despojada de nossa
hipocrisia, nos é mostrada através dos jornalistas ávidos de sensações e
imagens”.
Os
meios de comunicação podem ser vistos como a reprodução de desejos e
necessidades de quem a produz, unida ao que o público deseja ver. É um veículo
de dupla significação, pois ao mesmo tempo em que se utiliza dos desejos dos
alvos para se realizar, alimenta-os e cria desejos mais profundos. A partir
disso, fica clara a estratégia da mídia
em divulgar e reproduzir todo tipo de violência. Não se trata, necessariamente,
de uma comunicação perversa, trata-se de um trabalho de pesquisa, que ganha sua
notoriedade manifestando exatamente o que quer ser visto. Ou seja, se o que se
expressa é violência e, ao mesmo tempo, é o que se consome e assiste, a mídia
nada mais é do que um meio de expressão da violência que existe em todos, que
quer ser manifesta, que quer ser vista, mas por algum motivo precisa estar no
mundo da fantasia, do irreal, do ilusório.
O que há em comum, portanto, entre
gregos pederastas, aristocratas sádicos, líderes de guerra, idealizadores de
genocídios, políticos corruptos, Sade, Monsieur Verdoux, Hannibal, “Chico
Picadinho” e todo o resto da sociedade que, de alguma maneira, admira, observa,
assiste e procura tudo isso? Não é preciso criar nomes ou rótulos para se
referir ao ser humano. Está claro e exposto que todos possuem em comum o desejo
pela violência, mas a partir de conceitos morais, criados e enraizados já há
tanto tempo, essa agressividade precisa ficar velada, escondida e se manifesta
apenas em momentos oportunos. De maneira análoga à visão da loucura, olhando de
perto todo ser humano, ao final não teríamos mais sociedade “normalmente”
construída. Acabaríamos por isolar socialmente todos aqueles que correm o risco
de irem de encontro com as leis morais, mas ao final, perceberia-se exatamente
o que conta “O alienista” (Assis, 1998), a inversão de um mundo comum, público,
com rotinas usuais, a um mundo perverso, violento, trancafiado e isolado. Ou
seja, observando detalhadamente o caráter humano, chegaria-se na descoberta de
que todos, sem exceção, correm risco de passarem ao ato, de se mostrarem
violentos, de manifestarem seus mais profundos desejos e, em palavras mais
concretas, de cometerem crimes.
Partindo desse pressuposto puramente
estatístico, o mesmo que acaba por taxar como louco aquele que se comporta e
percebe o mundo de maneira “inusual”, o mesmo pode ser questionado quanto ao
que se denomina Psicopatia. Uma “doença do caráter”, que acomete mais homens do
que mulheres, um padrão de comportamentos frios, calculistas e sem consciência,
vindos de uma pessoa carente de empatia, manipuladora e cruel (Silva, 2008) ou
um rótulo mal utilizado para se referir a um ser humano, com dores e
sofrimentos intensos, que acabam por “passar ao ato” a partir de histórias e
significações complexas, traumáticas e aterrorizantes?
Se comportamentos tidos como
psicopáticos ou próprios de um Transtorno de Personalidade Antissocial referem-se a uma ausência de consciência,
poderíamos dizer que o mundo se comporta inconscientemente há séculos? O que
significa uma “doença do caráter”? Resume-se a um conjunto de comportamentos
que vão contra o moralmente estabelecido? E de quem é essa moral? A quem
pertence, quem a criou? Por que ver o que não aceita a moral tal como ela é
como “doente” ao invés de ver o que se esforça para conter sua própria natureza
em prol de regras e costumes artificialmente criados? Se os comportamentos
frios e calculistas se referem a utilizar o outro em prol das próprias
necessidades, em pleno 2012 seria possível, portanto, realizar uma mega ação
diagnóstica, que transformaria o mundo num verdadeiro hospício a céu aberto.
Nunca se percebeu sociedade tão narcisista quanto atualmente, que luta para
valorizar o próprio corpo e os próprios bens e, automaticamente, desconsidera o
outro. Ou seja, nesse continuum narcisista,
que visa a própria felicidade, promoção e bem-estar a qualquer custo, o outro
acaba ficando em segundo plano e existe um risco de se comportar friamente. E,
finalmente, até mesmo nos atos mais perversos, cometidos pelos infelizes
rotulados “psicopatas” ou por pessoas “normais”, vê-se um nível de empatia
enorme. Utilizar-se do outro para prazer próprio significa pesquisar seus
desejos e necessidades, alcançá-lo a partir disso, manipulá-lo, persuadí-lo.
Não existe nenhuma outra forma de se perceber o que o outro deseja a não ser
exercitando uma poderosa empatia.
A Psicopatia, assim como os
conceitos de “bem” e “mal”, são termos criados pelo homem, a partir da
necessidade de se categorizar algo que precisa ser evitado, visto, aceito ou
modificado. É uma invenção que visa colocar em palavras tudo aquilo que parece
inaceitável e, novamente, realiza-se a manobra de projeção da culpa e
responsabilidade para aquele que porta essa condição. A violência é um ciclo,
se vivenciada em algum momento da vida, é capaz de ser assimilada, aprendida e,
posteriormente, a qualquer momento, reproduzida, jogada para fora para perder
seu poder interno destrutivo. O homem vivencia variados tipos de violência ao
longo de toda a sua existência, em graus diversificados, portanto, está bem
treinado para reproduzi-la quando for necessário. Não somente é violento aquele
que invade o espaço do outro, priva-o de seus direitos à vida, limita sua
existência, arranca-lhe seus bens ou, de forma geral, comporta-se contra o que
lhe é solicitado socialmente. Violento é qualquer homem que, em prol de suas
próprias necessidades, deseja, planeja, comete e verbaliza coisas que causem
sofrimento. O policial agressivo que tortura o suspeito, o político corrupto
que não sabe lidar com tanto poder, a mãe nervosa que espanca o filho, o
professor autoritário que limita a criatividade do aluno, o marido machista que
submete a esposa às suas regras, o colega de classe frustrado, que precisa
submeter os mais fracos a seu próprio sofrimento, o lutador venerado
nacionalmente, que se enriquece a cada “batalha” vencida e o cidadão que, de
alguma forma, tira proveito de situações violentas para própria diversão ou
prazer. São tantos casos comuns e rotineiros e a mesma violência sendo passada
para frente, ininterruptamente, num ciclo vicioso.
Após uma vasta análise da genealogia
da moral, que tem formado condutas e construído regras e valores, além de uma
vasta análise dos episódios de violência tão presentes em nossa história da
civilização até atualmente, pode-se chegar a uma conclusão: o homem possui
desejos profundos, mas luta para se encaixar nas convenções diariamente e, no
meio dessa empreitada, sempre há alguma maneira de “fugir” dessa angústia. O
desejo à violência, então, se manifesta a partir de atitudes rotineiras e
imperceptíveis. Mas, quando um ato de extrema violência ganha notoriedade pública,
o mecanismo de projeção se faz útil. Tudo aquilo que se deseja fazer, mas é
reprimido, visto com olhos críticos e castradores, projeta-se no outro que fez
a passagem, que atuou por algum motivo, e então a sociedade está “salva” de
mais uma responsabilidade, que agora encontra-se plenamente projetada no grande
culpado e responsável pelo sofrimento humano. A violência é um enorme ciclo
vicioso que precisa ser interrompido. Se se deseja modificá-la, precisa-se
estar em contato com a própria violência, compreendê-la, questioná-la. Perceber
o quanto somos agressivos e o quanto desejamos isso não significa liberar-se à
natureza e iniciar repertórios de comporamentos destrutivos e ameaçadores. A
percepção da violência é um primeiro passo para romper e prevenir que esse
ciclo progrida, evitando projeções, discriminações, isolamentos sociais, vistas
grossas, negligência e, consequentemente, visando relações sociais mais
humanas, pacíficas e compreensivas. Se realmente existe “Psicopatia”, que ela
seja vista como uma maneira de viver, uma série de significações extremamente
doídas, recheadas por experiências de sofrimento que precisam ser
ressignificadas. Talvez, um grande avanço na quebra desse ciclo seja perceber,
de uma vez por todas, que até mesmo o “mal” precisa ser compreendido, pois esse
mesmo “mal” faz parte todos nós.
BIBLIOGRAFIA
Assis,
M. (1998) O alienista. Porto Alegre:
L&PM.
Beccaria,
C (2005). Dos delitos e das penas. 5ª
edição. Martins Fontes
Ferraz,
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do Psicólogo.
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M-L (2006) O autor do crime perverso. Rio
de Janeiro: Companhia de Freud.
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