segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Rapport



É intrigante pensar nas magias de um Rapport. O contato inicial, a confiança, o vínculo, diga-se de passagem.


Em um âmbito terapêutico, imagine quantas particularidades e subjetividades não devem fazer parte desse contato inicial, que influenciará a adesão até o final do "tratamento" ?


Uma pessoa vai em busca de ajuda e carrega com ela um universo. Por trás de queixas somáticas, podem existir causas emocionais fortíssimas. É uma caixa sem fundo, que está prestes a ser desmembrada aos poucos. Se essa pessoa nunca teve um ponto de apoio e esse Rapport é idealmente estabelecido, ela encontra ali a sua fortaleza.





Algumas reflexões sobre esse vínculo terapêutico tem me levantado questões que mexem comigo. O fato de precisarmos saber o que vem do outro e o que é parte de nós é um limiar tão fino e tão pequeno, que julgo privilegiados os profissionais que possuem esse controle. Não é por acaso que nos é recomendada a terapia. Quando sabemos exatamente o que nos toca e quando conseguimos deixar isso tudo dentro do armário para sermos apenas profissionais, conseguimos estabelecer um vínculo acolhedor, mas ao mesmo tempo impessoal.





Acho fácil se pensar que, se há uma imagem de psicólogo construída socialmente e há um bom tempo, pacientes se sentem amedrontados em buscar esse tipo de ajuda, seja para fazer uma entrevista diagnóstica, seja para iniciar um tratamento. Por incrível que pareça, há vários "profissionais" por aí que não possuem a habilidade de trazer conforto e aconchego, posicionam-se como os donos da verdade, são arrogantes e preconceituosos. É por isso que as questões pessoais que carregamos conosco devem ficar para trás quando assumimos uma postura profissional e assumimos um dever ético diante dessas pessoas. Já não é fácil passar por esse tipo de experiência, porque muitas vezes não se tem um completo insight do que ocorre, ou quando se tem, está em brando sofrimento. Se não há alguém, em posição de transferência, para amenizar essa ansiedade, que tipo de Rapport será estabelecido? Que tipo de abertura ou conforto o paciente sentirá para abrir sua história?





Antes de tudo, o caráter humano deve se sobressaír nessas relações. Não devemos deixar os limites de lado, porque cada ser humano possui os seus. O contrato inicial também não pode cambalear, pois o vínculo terapêutico depende desse ponto firme, mas o principal instrumento do psicólogo deve estar inteiro e completo: ele mesmo.