quarta-feira, 28 de abril de 2010

Depressão, o Transtorno Depressivo Maior • The Major Depressive Disorder



A Depressão tem se tornado a doença do século. Talvez seja muito importante se perguntar por que isso está acontecendo. Eu diria que podemos listar diversos fatores que poderiam contribuir para a ocorrência cada vez maior de depressão nas pessoas, nas mais variadas idades e classes sociais. Mas é realmente muito difícil generalizar, cada pessoa possui seu universo emocional e cada pessoa terá sua angústia apoiada em um motivo ou vários motivos específicos.
O Transtorno Depressivo Maior, como é chamado, é um transtorno de humor bastante estudado por especialistas ultimamente. Sabe-se que pode existir algum fator neuroquímico envolvido, como falta do neurotransmissor serotonina agindo no organismo. Mas acredito que a depressão possui um fator muito mais ambiental do que químico, além de genético.
Neste transtorno o que mais se observa é um humor deprimido muito frequente e, aparentemente, sem muitos motivos. A pessoa fica chorosa, desanimada, sonolenta, sem energia para fazer as coisas e costuma se culpar muito por vários motivos. O misterioso é que muitas vezes as pessoas deprimidas sabem que tem algo errado acontecendo, sabem que o motivo para estarem assim é desconhecido, sabem que precisam de ajuda, mas nem para isso se motivam. Poderia dizer que um paciente em depressão encontra-se enjaulado, porque ele tem consciência do sofrimento pelo qual está passando, gostaria muito de ser ajudado, mas está em uma desilusão muito grande, normalmente não acredita que possa melhorar, que suas angústias possam ir embora e começa a se sentir inútil e culpado pela situação ou por diversos outros acontecimentos em sua vida.
É muito comum encontrar em pacientes deprimidos a vontade de tirar a própria vida. De acordo com o DSM-IV, um dos principais livros diagnósticos seguidos por profissionais da saúde, a ideação suicida ou idéias sobre morte é um critério fundamental para se diagnosticar o transtorno. Esse critério pode, inclusive, mudar a perspectiva do profissional diante do paciente, o prognóstico pode ficar mais complicado e a internação pode ser uma solução imediata.

Em uma pesquisa que realizei na universidade discutimos a percepção da dor em pacientes com depressão. Um dos tópicos que chamam a atenção é a comorbidade da fibromialgia com a depressão. A fibromialgia é uma doença que normalmente atinge mais mulheres do que homens, ela se caracteriza por dores generalizadas, sem causas orgânicas aparentes. Os pacientes se queixam de sentirem dores no corpo todo e, quando submetidos a exames médicos, não são encontrados motivos fisiológicos para suas dores. Os médicos, então, rotularam a fibromialgia como uma doença psicossomática, quer dizer, uma doença que possui aspectos psicológicos com interferência em aspectos físicos. Por isso é muito comum encontrarmos pacientes com fibromialgia carregando também um humor deprimido e o contrário também! A pergunta é: o que veio primeiro? O paciente adquiriu fibromialgia por conta de sua Depressão ou o paciente se tornou deprimido por conta da fibromialgia?


Sobre os tratamentos para a depressão existe uma discussão quase infinita. Os psiquiatras receitam frequentemente anti- depressivos fortes (tarja preta), além de remédios para auxiliarem o sono, que acabam causando dependência. Há alguns terapeutas que defendem que muitos casos de depressão não precisam do auxílio de remédios. O que seria o mais indicado para o tratamento da doença?
Eu levo comigo a opinião de que todas as terapias existentes podem dar um grande auxílio ao paciente, mas elas dependem da adesão do paciente e do interesse dele em ficar melhor. Qualquer terapia, investida de fé e esperança por parte do paciente, pode tirá-lo desse quadro de sofrimento, desde que bem feita, é claro. Acredito também que existem várias atividades diárias que podem ser feitas para auxiliar o tratamento. Estão sendo feitas pesquisas que abordam o uso da dança, da pintura, da fotografia, ou seja, das artes de forma geral, para a cura da depressão. E elas realmente podem ajudar. São métodos que mexem não só com o processo emocional do paciente, que pode usá-los para se expressar e de certa forma desabafar, como mexe com a auto-estima. Já nos casos mais severos da doença, em que se percebe por exemplo uma ideação suicida muito forte, acho que a intervenção química é muito importante, porque afinal de contas, sabe-se que o déficit de serotonina no organismo traz consequências de muito sofrimento para o paciente. Os anti-depressivos, então, dariam uma ajuda quase imediata para o sofrimento, impedindo que o paciente cometa um suicídio.


Eu poderia resumir esse quadro dizendo que a Depressão é uma doença muitas vezes negligenciada pela própria família do doente, ou até por outras pessoas do convívio social. Na atualidade, é muito comum ver pessoas sempre muito estressadas e preocupadas com a vida, quase sempre carregando um humor deprimido e, então, quando se trata de um caso sério, como o Transtorno Depressivo Maior, muitas pessoas não conseguem discriminar a doença, no sentido de acharem que faz parte da vida, que é comum se sentir triste de vez em quando e esperam que o tempo faça a sua parte. Infelizmente, não são todos os pacientes que têm uma melhora significativa com a passagem do tempo e acabam tirando suas vidas por se sentirem sozinhos, desiludidos, sem perspectiva nenhuma sobre a própria existência.
De qualquer forma, humor deprimido persistindo por muito tempo é sinal de que algo não vai bem. A família e o apoio social nessas horas é muito importante para a recuperação. Nunca deixe de pedir ajuda ou procurar ajuda nessas condições, a depressão tem cura e pode mudar muitas vidas.