quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Uma abordagem centrada no aluno, estratégia para prevenção da violência escolar- análise e reflexão da teoria de Carl R. Rogers. • The student-centered learning, a strategy to prevent Bullying.






            O presente artigo tem por objetivo analisar a obra de Carl R. Rogers intitulada “Tornar-se pessoa”, promovendo reflexões e levantando estratégias a um ensino voltado para a liberdade do aluno, focada em sua experiência e aberta ao questionamento pessoal. Uma maneira a permitir o crescimento efetivo, individual e em grupo, promovendo a consciência e compreensão mútuas e prevenindo a soberania da violência e competição.

            Rogers inicia sua obra expondo experiências pessoais que o levaram a teorizar e colocar em prática sua visão de processo terapêutico ideal e, posteriormente, construiu associações com o contexto escolar, transpondo a terapia focada no cliente ao ensino focado no aluno e, felizmente, observou os mesmos excelentes e duradouros resultados. Antes de tudo, a teoria rogeriana se pauta no objetivo de dar liberdade ao cliente ou ao aluno de se expressar conforme sua própria consciência de sofrimento e/ou demanda, constituindo em uma técnica que não visa somente a exposição ativa de um “detentor do saber” a um aluno/cliente que se posiciona passivamente e absorve tudo o que lhe é imposto. Ao contrário, a técnica diz respeito a abrir um espaço para que seja comunicado pelo aluno ou cliente o assunto a ser conversado e consequentemente a direção do movimento, tanto no processo terapêutico, quanto no processo de ensino.

            A partir dessa perspectiva, também é possível se pensar na enorme contribuição que o olhar compreensivo possui sobre as interações interpessoais. A postura de um professor diante do aluno, caracterizada por uma compreensão e escuta paciente de suas demandas e experiências possibilita que o aluno se sinta reconhecido e acolhido da melhor maneira e, sentindo-se compreendido, é possível que se modifique. Quanto mais um indivíduo é reconhecido, maior a tendência de abandonar as falsas defesas que criou para enfrentar a vida e maior sua tendência a mover para frente. Essa necessidade de se defender por vezes pode ser caracterizada por comportamentos reativos, agressivos, antissociais e prejudiciais.
             Relações pautadas na compreensão e aceitação da subjetividade do outro também podem ser observadas em situações familiares. Atitudes dos pais para com os filhos denominadas “atitudes de aceitação democrática”, caracterizam-se por relações de igual para igual, realizadas a partir do afeto, e demonstram resultar em desenvolvimento intelectual acelerado por parte dos filhos, além de maior originalidade, maior segurança e controle emocional. Por outro lado, quando os pais adotam “atitudes de rejeição ativa”, surgem resultados como leves retardamentos do desenvolvimento intelectual das crianças, utilização pobre de suas capacidades, instabilidade emocional e comportamentos de rebeldia, agressividade e agitação.
            Tendo em vista os inúmeros efeitos colaterais comportamentais que uma relação baseada na autoridade pode promover, é importante analisar as estratégias apontadas por Rogers como saídas para uma relação de ajuda. Entre elas, ele detalha sobre a importância de se apresentar como verdadeiramente é, para construção de vínculos baseados na confiança. Quando se demonstra e expõe verdadeiramente o que se é, o terapeuta, pai ou professor se posiciona por inteiro e proporciona a confiança. Outra saída diz respeito à já citada importância de se estabelecer uma relação demonstrada no reconhecimento de quem o outro é e do que já viveu e traz consigo, pois assim demonstram-se sentimentos positivos e ao mesmo tempo fortalece-se a confiança. Assim também é possível se demonstrar à pessoa que não há um juízo de valor nessa relação, o que permitirá que ela mesma perceba que o julgamento reside dentro de si mesma. Por último, mas não menos importante, Rogers detalha a importância de se ter em mente que não é produtivo perceber o cliente/paciente/filho como um indivíduo rígido e fechado em um conceito pré-determinado, no sentido de que é preciso pensar nas potencialidades e na possibilidade de que suas condições atuais sejam mutáveis e passíveis de transformações.
            A aprendizagem significativa, como fruto da terapia focada no cliente e no ensino focado no aluno, para Rogers, é aquela que provoca uma modificação, seja no comportamento do indivíduo, na orientação da ação futura que escolhe ou nas suas atitudes e na sua personalidade. É possível se observar aprendizagens como percepções diferentes sobre si mesmo, aceitação de sentimentos, aumento da auto-confiança e autonomia, flexibilidade e diminuição da rigidez nas percepções, adoção de objetivos mais realistas, comportamentos mais maduros, modificação de comportamentos mal adaptados e maior aceitação dos outros. Estudantes que estão em maior contato com os problemas da vida procuram aprender, desejam crescer e descobrir, esperam dominar e querem criar. Todas essas aprendizagens e mudanças puderam ser relatadas por um caso exposto na obra “Tornar-se pessoa” em que Samuel Tenenbraum pôde detalhar sua experiência primeiramente como aluno de Rogers, a experimentar de perto a teoria e técnica humanista e, posteriormente, demonstrando sua eficiência em suas próprias práticas como professor em sala de aula.
            Por fim, Rogers fala sobre os resultados da terapia focada no cliente para a vivência intrafamiliar. Entre eles, está o aumento da compreensão sobre si mesmo e o consequente aumento da compreensão do próximo, em suas características e individualidades. Ao mesmo tempo, quando o indivíduo se torna capaz de entender seus próprios sofrimentos, toda a angústica, raiva e agressividade perde seu poder explosivo e é possível questioná-los e ressignificá-los, inclusive em relações que os provocam.
            Tendo em vista a violência e a agressividade recentemente vivenciadas dentro do contexto escolar e buscando uma estratégia que facilite a prevenção e desestruturação disso, a teoria rogeriana demonstra que ter o olhar voltado para o indivíduo e suas experiências, de maneira compreensiva e aberta para as mudanças graduais e duradouras, tende a trazer bons resultados que podem se refletir em outros contextos e possibilitarem novas vivências e novas decisões para o futuro. Se há um espaço aberto para que o aluno converse sobre suas angústias, muitas vezes vivenciada fora da escola, mas trazidas para suas relações escolares, e este aluno percebe estar sendo acolhido com compreensão e empatia, ele mesmo poderá encontrar os caminhos para sua modificação, buscando novas estratégias, tornando menos rígidas suas percepções e podendo, inclusive, refletir essas mudanças no contexto familiar. Escolas que adotem a filosofia humanista podem contar com um método mais aberto às subjetividades de cada aluno e, em suas dinâmicas em sala de aula, podem promover maior aceitação mútua às individualidades de cada aluno, construindo conceitos que vão desde o respeito ao próximo, passando pela compreensão da demanda de cada um e chegando à motivação de ajudar o outro em seu próprio conhecimento. Diferente de uma educação pautada nas relações hierárquicas e autoritárias, o ensino focado no aluno, de base puramente humanista, parece abrir portas para uma estruturação do ser de forma mais consciente e pacífica, gerando indivíduos que, desde cedo, percebem o próximo como um outro com próprias demandas e especificidades, exercitando a tolerância e a empatia e, ao mesmo tempo, prevenindo situações de violência e exclusão.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário